segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ode Ao Gato










Os animais foram imperfeitos,
compridos de rabo, tristes de cabeça.
Pouco a pouco foram-se compondo,
fazendo-se paisagem,
adquirindo pintas, graça, voo.
O gato, só o gato
apareceu completo e orgulhoso:
nasceu completamente terminado,
anda sozinho e sabe o que quer.
O homem quer ser peixe e pássaro
a serpente quisera ter asas,
o cachorro é um leão desorientado,
o engenheiro quer ser poeta,
a mosca estuda para andorinha,
o poeta trata de imitar a mosca,
mas o gato quer ser só gato
e todo gato é gato
do bigode ao rabo,
do pressentimento à ratazana viva,
da noite até os seus olhos de ouro.
Não há unidade como ele,
não tem a lua nem a flor
tal contextura:
é uma coisa só como o sol ou o topázio,
e a elástica linha no seu contorno
firme e subtil é como
a linha da proa de uma nave.
Os seus olhos amarelos
deixaram uma só ranhura
para jogar as moedas da noite
Oh pequeno imperador sem orbe,
conquistador sem pátria
mínimo tigre de salão, nupcial
sultão do céu das telhas eróticas,
o vento do amor na intempérie
reclamas quando passas
e pousas quatro pés delicados
no solo, cheirando, desconfiando
de todo o terrestre, porque tudo
é imundo para o imaculado pé do gato.
Oh fera independente
da casa, arrogante vestígio da noite,
preguiçoso, ginástico e alheio,
profundíssimo gato, polícia secreta
dos quartos, insígnia de um
desaparecido veludo,
certamente não há
enigma na tua maneira,
talvez não sejas mistério,
todo o mundo sabe de ti e pertence
ao habitante menos misterioso,
talvez todos acreditem,
todos se acreditem donos,
proprietários, tios
de gatos, companheiros,
colegas, discípulos ou amigos
do seu gato.
Eu não.
Eu não subscrevo.
Eu não conheço o gato.
Tudo sei, a vida e seu arquipélago,
o mar e a cidade incalculável,
a botânica, o gineceu com os seus extravios,
o pôr e o menos da matemática,
os funis vulcânicos do mundo,
a casaca irreal do crocodilo,
a bondade ignorada do bombeiro,
o atavismo azul do sacerdote,
mas não posso decifrar um gato.
A minha razão resvalou na sua indiferença,
os seus olhos tem números de ouro.


Pablo Neruda

foto: por Thays Baes

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

O Que Ela Disse




O que ela disse:
"Como é que ninguém percebeu que eu morri
E decidiu me enterrar?
Deus sabe, eu estou pronta"

O que ela disse
Foi triste
Mas toda a rejeição que ela teve
Fingir ser feliz só poderia ser idiotice
O que ela disse não foi pelo emprego
Ou pelo amante que ela nunca teve
O que ela lia
Todos os livros pesados
Que ela iria sentar e profetizar
(Foi preciso um garoto tatuado de birkenhead
Para realmente abrir os seus olhos)

O que ela disse:
"Eu fumo porque estou
Esperando uma morte precoce
E eu preciso me agarrar a algo"
O que ela disse:
"Eu fumo porque estou
Esperando uma morte precoce
E eu preciso me agarrar a algo"

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010



Dreams




Oh my life
Is changing everyday
Every possible way


Though my dreams
It's never quite as it seems
Never quite as it seems


I know I felt like this before
But now I'm feeling it even more
Because it came from you


And then I open up and see
The person falling here is me
A different way to be


La larara larara larara la
I want more
impossible to ignore
impossible to ignore
They'll come true
impossible not to do
impossible not to do


And now I tell you openly
You have my heart so don't hurt me
You're what I couldn't find


A totally amazing mind
So understanding and so kind
You're everything to me
Oh my life
Is changing everyday
In every possible way


Though my dreams
It's never quiet as it seems
Cause you're a dream to me